Tese de MestradoGeografias do imaginário, a criação de uma Geografia de Portugal e da sua aparente fragmentação Territorial – com base na obra de Amorim Girão
SumárioA geografia é a nobre ciência do tudo, onde tudo o que acontece ocorre num lugar e num espaço, e onde a figura do espaço é a figura do evento, e assim, em termos de estudo, o evento assume, não a importância que a historia lhe dedica, mas sim a importância do estudo dos condicionalismos que originaram esse evento.
É com base nesta premissa que os mais diversos autores portugueses da primeira metade do século XX abordaram o estudo do território, para eles era importante definir, parametrizar e conhecer a realidade, mesmo que essa realidade fosse uma mera generalização de casos pontuais, ou mesmo que fosse o inverso, em que os casos pontuais não sejam considerados nas regras que eles procuravam universalizar. Desta forma, é com as influências da escola Alemã e do pensamento regionalista Francês, que vemos a produção geográfica portuguesa a ser impulsionada em direcção às primeiras grandes produções de uma Geografia de Portugal, a descrição de uma Nação começa a ganhar forma, os planos de estudo físico e humano juntam-se nas primeiras grandes obras de Lautensach, Orlando Ribeiro e Amorim Girão, onde o espirito de definição territorial é bem latente. Nelas o Território ganha uma nova unidade, uma nova identidade e a ideia de nação é vinculada a um todo pela percepção das suas inúmeras partes. Estas obras, principalmente a de Amorim Girão, são fruto de uma época, de uma corrente ideológica e de um paradigma científico, contudo, são principalmente fruto de uma visão e orientação politica e onde a mão do regime estadista/nacionalista está bem presente e assume o espirito orientador dessas mesmas obras; digamos que o autor era secundarizado, que a produção era Orwelliana por essência, que ela existia para validar-se a si mesmo, a obra valida a nação e esta acabaria por, mais tarde, validar a obra. É nesta dicotomia entre descrever a realidade e reinventar a realidade, que surge o objecto deste estudo, que ganha forma a ideia de criação de ideias, a certeza de que as paisagens e preceitos culturais nacionais são fruto de algo mais que um simples processo de sucedâneos acontecimentos naturais ao longo do lento e continuado desenrolar da história. Aqui insere-se o estudo, a abordagem que pretendemos fazer, com base na obra de Amorim Girão, procuramos confirmar que o Portugal do Estado Novo é o resultado de uma ideia de Estado, de uma Ideia de Nação. Examinaremos se os espaços são imaginações individuais contiguas a uma imaginação geral. Iremos vasculhar a mente colectiva do fruto Salazarista, o Estado Novo será analisado no seu impacto criacionista e em termos de extensão de concordância com a realidade. Em suma, vamos debruçar-nos sobre se a fragmentação territorial apresentada na obra de Amorim Girão tem representatividade na realidade e sobre de que forma estão, actualmente, essas noções e termos enraizados no individuo. |